CITOLOGIA EM MEIO LÍQUIDO (PARTE 2)

No presente texto falaremos sobre as principais diferenças entre os métodos de Citologia Convencional e Citologia em Meio Líquido ou Base Líquida.
A primeira diferença que citaremos é a que conseguimos ver a olho nu, trata-se da diferença na apresentação entre as amostras. Na imagem abaixo, item (A), temos a representação de um esfregaço confeccionado pelo método convencional, note que o material esta presente em toda a lâmina e conseguimos observar também que nesse caso tivemos dois tipos de coleta (ectocérvice e endocérvice) e no item (B) temos a imagem de uma lâmina produzida pelo método em meio líquido (SurePath), note que há a presença de um único círculo centralizado na lâmina, sendo que é justamente nesse círculo que temos o material da paciente concentrado na lâmina, a presença do círculo em amostras em meio líquido é unânime em todas as marcas que realizam esse método, havendo apenas variações no diâmetro da circunferência de cada marca, conforme você observará nos itens (C) e (D).  
Quando abordamos o aspecto microscópio, observamos algumas peculiaridades em ambos os métodos, a primeira delas é em relação aos fatores obscurecedores das amostras (dessecamento, excesso de hemácias, excesso de neutrófilos, diátese tumoral e sobreposição celular) essas são características menos observadas do que nas lâminas confeccionadas com o método convencional, por isso que diversos estudos mostram que o a Citologia em Meio Líquido apresenta maior especificidade e sensibilidade quando comparada a Citologia Convencional.
Outro ponto que pode causar estranheza para quem começa a realizar o escrutínio de amostras de meio líquido é a tridimensionalidade celular, a utilização do micrômetro passa a ser mais constante durante a leitura, principalmente em amostras provenientes da marca SurePath, ThinPrepLiqui-PREP.  Células endocervicais e sincícios com alterações celulares, costumam apresentar essa tridimensionalidade aparente e deve ser muito bem observado. Abaixo temos um exemplo de uma amostra confeccionada pelo método de ThinPrep, identificamos um grupo de células alteradas (LSIL - Lesão Intraepitelial Escamosa de Baixo Grau), mas ao efetuarmos a correção de foco ao microscópio é possível verificar essa tridimensionalidade descrita acima. Sabemos que as amostras da marca Kolplast é a que se assemelha mais com o método convencional.

Outros detalhes que microscopicamente mudam:
- Sabe aquela lâmina convencional que colocamos no microscópio e o nosso olho já deduz que tem a presença de Trichomonas vaginalis na amostra devido a característica do esfregaço e da flora, nesse caso as amostras de Meio Líquido perde essa característica, apresentando geralmente como pequenos Trichomonas vaginalis espalhados pela lâmina (vide imagem abaixo). 
- Microbiologia, muitas vezes identificar a presença de microorganismos na Citologia em Meio Líquido não é tarefa fácil, pois como esse método deixa o "fundo" limpo, a nossa dica é para que você observe o citoplasma das células, pois nesse caso os microorganismos costumam ficar aderidos nessa região.
- Células endocervicais, elas costumam apresentar-se em pequenos grupos ou solitárias, esse fato pode estar relacionado devido as etapas de preparo da lâmina e por causa desse processo elas podem desprender de grupos e ficarem solitárias ou em grupos menores. Com isso, a identificação da presença de células endocervicais pode torna-se mais dificultosa para o profissional.

Outro detalhe que é diferente nos métodos esta relacionado a colheita do material. Na Citologia Convencional é usado espátula, “escovinha”, lâmina de vidro e espéculo, a amostra da ectocérvice (espátula) e endocérvice (escovinha) é coletada, depositada na lâmina e fixada imediatamente e nas amostras de Meio Líquido é utilizado espátula (dependendo do método não tem), “escovinha da marca”, espéculo e tubo com líquido preservativo, o material coletado é depositado dentro do tudo com o líquido que preserva a morfologia celular, em alguns métodos a escovinha acaba indo dentro do tubo para garantir maior celulariedade na amostra, esse tubo chega ao laboratório e é processado, o processamento pode ser realizado de forma manual ou de forma automatizada.

Esperamos que esse texto seja esclarecedor a você profissional da área ou estudante, caso não tenha lido o nosso primeiro texto sobre Citologia Em Meio Líquido, você conseguirá ter acesso ao conteúdo CLICANDO AQUI.

PROVA DE TÍTULO

Vamos falar sobre prova de título? Para você que busca mais informações e detalhes sobre "prova de título", elaboramos esse post para elucidar as suas dúvidas a respeito do tema.

Quando surgiu a prova de título? 
A prova de título começou a ser aplicada num tempo em que os cursos de especialização em Citologia Clínica ou Citologia Oncótica eram escassos no mercado. O profissional naquela época iniciava sua carreira no laboratório muita vezes por indicação, aprendia sobre a área com o auxílio de um colega mais experiente ou do chefe do setor e depois de um tempo de experiência, esse profissional realizava a prova de título como forma de provar o seu conhecimento na área.

Por que o interesse pela prova de título diminuiu entre os profissionais?
Na nossa opinião há dois motivos que colaboram atualmente para que os profissionais não tenham interesse em realizar a prova de título, o primeiro deles é o aumento considerável da oferta de cursos de especialização na nossa área nos últimos anos no Brasil, formando cada vez mais um grande número de profissionais aptos para iniciar sua carreira na área e o segundo fator é relacionado a baixa da divulgação sobre o assunto entre as Instituições que aplicam as provas.

Quais são as provas disponíveis atualmente?
Existem no Brasil 3 Instituições que oferecem a prova de título. 
A Sociedade Brasileira de Citopatologia (SBC) possui a Prova de Suficiência em Citotecnologia, a prova é oferecida a profissionais com nível técnico e nível superior (biomédicos, farmacêuticos e biólogos). A prova é constituída por questões de múltipla escolha, sendo dividida em parte prática (slides de imagens) e parte teórica, sendo apenas solicitado conhecimento de Citologia Ginecológica. Existe a realização da prova algumas vezes ao ano e maiores informações você pode encontrar no site da SBC CLIQUE AQUI.

A Sociedade Brasileira de Citologia Clínica (SBCC) possui a Prova de Título em Citologia Clínica, a prova é oferecida a profissionais com nível superior (biomédicos, farmacêuticos e biólogos) e que sejam sócios da sociedade. A prova é constituída por questões de múltipla escolha, sendo dividida em parte prática (slides de imagens) e parte teórica, sendo solicitado conhecimento de Citologia Ginecológica e Citologia Não-Ginecológica. A realização da prova acontece juntamente com o Congresso Brasileira de Citologia Clínica realizado pela SBCC e maiores informações você pode encontrar no site CLIQUE AQUI. O título deve ser renovado a cada 5 anos.

A Associação Brasileira de Biomedicina (ABBM) possui a Prova de Título, a prova é oferecida a profissionais com nível superior (biomédicos exclusivamente), que tenham experiência de 2 anos comprovada na área e que sejam sócios da associação. A prova é constituída por questões de múltipla escolha, contendo apenas parte teórica, sendo solicitado conhecimento de Citologia Ginecológica e Citologia Não-Ginecológica. Existe a realização da prova algumas vezes ao ano e maiores informações você pode encontrar no site da ABBM CLIQUE AQUI. O título deve ser renovado a cada 5 anos.

A Prova de Título tem algum custo?
Sim, o valor sofre variações estipuladas por cada organização. Consulte a instituição de seu interesse para obter maiores informações.

Quais provas nós do Citologia Brasil já realizamos?
Fizemos em 2018 a prova oferecida pela ABBM em SP e em 2019 realizamos a prova oferecida pela SBC em SP.

Para finalizar, vamos falar sobre Prova de Título Internacional?
Existem algumas organizações mundiais que realizam provas de títulos internacionais para nativos e estrangeiros. Uma das mais conhecidas e conceituadas é a prova realizada pela International Academy of Cytology (IAC).
Para a realização da prova é exigido comprovação de experiência de 3 anos como citotécnico, carta de recomendação do empregador e de um patologista. A prova acontece várias vezes ao ano e em diferentes lugares do mundo e maiores informações você pode encontrar no site da IAC CLIQUE AQUI.

Queremos com esse post possa primeiramente tirar as suas possíveis dúvidas a respeito do assunto e segundo queremos te motivar a buscar a titulação, pois sabemos o quando é fundamental e necessário sempre estarmos atualizados sobre o mundo da Citologia e com a grande concorrência no mercado de profissionais formados, ter o título pode ser um grande diferencial profissional. 
Esperamos que tenha gostado deste post, quaisquer dúvida estamos sempre a disposição para te ajudar.

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ENTREVISTA COM A BIOMÉDICA ELEN SILVA

A nossa primeira entrevista de 2020 é com a biomédica e professora Elen Cristina Martins, pós-graduação em Citologia Oncótica (UMC, 2006), Gestão de Qualidade na Área da Saúde (UMC, 2008), Qualidade no Serviço da Saúde-(FELUMA, 2013), Biotecnologia e Inovações em Saúde (UMC, 2016). Atualmente é Professora e Supervisora de estágio da disciplina de Citopatologia nos cursos de Biomedicina e Farmácia da Universidade de Mogi das Cruzes Campus Vila Leopoldina e prestadora de serviços e consultora no âmbito laboratorial.

1. Ellen, queremos saber, quando você se apaixonou pela Citologia? Você se recorda das maiores dificuldades encontradas no início da sua carreira?
A paixão pela Citologia foi devido aos professores na época, (Professores Nilton O. Silva, Walkiria Maiaroti).
Na minha singela opinião é o professor que cativa você na hora de escolher sua habilitação.
Toda profissão é difícil, tive sorte, quando formada fui trabalhar no laboratório dos meus professores. O lado negativo sempre é o salário pagavam menos para recém-formado.

2. Há quantos anos você atua na área? Quais foram as principais mudanças envolvendo o nosso setor que você testemunhou?
Há 14 anos em Anatomia Patológica, sendo 5 como docente.
A transição mais efetiva que testemunhei foi de escrutínio convencional para meio líquido e a automação da mesma.
ALUNOS DO 6º SEMESTRE DA TURMA MATUTINA.
3. Como docente, na sua opinião é possível o(a) aluno(a) da graduação concluir o curso com uma boa base de conhecimento em citologia clínica? Há algum segredo para fazer com que os alunos despertem o interesse pela disciplina?
Depende de quantas horas de estágio (600h) e se o aluno realiza a leitura de lâminas todos os dias. Na organização educacional onde trabalho é 360 horas por semestre e levo minha rotina para os alunos. Só se aprende lendo lâminas, simples assim!!!!
O segredo para atrair os alunos é o amor pela profissão, se você não ama o que faz ninguém se interessa. Quando o aluno percebe que o professor é realizado e feliz, o aluno quer saber o motivo e começa a se focar na disciplina.

4. Você supervisiona o estágio curricular obrigatório de citologia clínica que ocorre no Laboratório Escola na Universidade Mogi das Cruzes em São Paulo, conte para nós como funciona esse programa e quais as ferramentas que você utiliza para mostrar o “mundo da citologia” aos seus alunos?
Sim. O estágio é no período de 1 ano (sendo no 7º período e 8º período do curso de BIOMEDICINA). Já no curso de Farmácia é apenas 240 horas, pois entra na grade de estágio de Análises clínicas não como habilitação, neste caso eles só podem atuar na área com especialização. A grade curricular é focada na demanda no mercado sendo escrutínio de lâminas 80% Ginecológico e 20% não Ginecológico.
A leitura de lâminas são de casos negativos, suspeitos e positivos. A rotina são do meu laminário pessoal.
As aulas são de segunda à sexta feira no período noturno.
Sendo segunda-feira, casos clínicos pela plataforma digital da instituição.
Sendo de terça-feira a sexta-feira escrutínio de lâminas, aulas teóricas e metodologia ativas.
Esse estágio é realizado no campus Vila Leopoldina (São Paulo).
APRESENTAÇÃO DE JOGOS EDUCATIVOS.

5. Após o término da graduação é chegada a hora da escolher a especialização, a Universidade Mogi das Cruzes (UMC) possui o seu curso próprio de pós-graduação em Citologia Oncótica, qual é o diferencial do curso e como preparar o aluno para ao fim da especialização ele estar apto para encarar o mercado de trabalho? É um grande desafio? 
A especialização da UMC em Citologia Clínica é realizado no campus de Mogi das Cruzes.
Eu fiz essa especialização, tem tradição na área acadêmico e profissional, e hoje sou um das professoras.
O diferencial são professores com vasta experiência que atuam efetivamente na área, aulas práticas com lâminas que refletem a rotina de um laboratório e o profissional se prepara para o mercado com discussão de casos clínicos e critérios citomorfológicos (sendo esse hoje o fator primordial para um citologista, e muitos ainda não são bem treinados). Citologia já em um grande desafio mas com foco e determinação atuam rápido no campo laboratorial.

6. Você considera que um bom profissional é aquele que nunca deixa de estudar e deve estar sempre atualizado nas novidades da área? E quais são as suas perspectivas para o futuro da nossa área com o avanço de tecnologias como a telepatologia, biologia molecular e citologia em meio-líquido?
Efetuar leitura de lâminas não é suficiente, como em qualquer outra profissão a acurácia do conhecimento define se você é um bom profissional ou não.
O futuro da saúde é a PREVENÇÃO se a tecnologia não focar nisso não ajuda,
Não adianta exames “caros” que não favorecem subsídios para o paciente se prevenir!
A porcentagem de jovens que usam camisinha é de 15% no Brasil, isso quando não sabem usar.
Sou mais a favor de Educação Sexual do que exames que muitas vezes o convênio não realiza devido a cobertura do plano, e no SUS dificilmente realizam.
OUTUBRO ROSA

7. Como você avalia atualmente a rotina de um laboratório de citologia? Você costuma compartilhar em sala de aula a sua experiência profissional e dificuldades encontrada na área?
Rotina de laboratório é difícil quando você não gosta do que faz.
Eu compartilho todas as minhas experiências e falo a realidade “nua e crua”, vantagens e desvantagens.

8. Um assunto muito discutido em reuniões entre os profissionais que praticam a citologia é a valorização do profissional, como melhores remunerações e condições de trabalho. Qual é a sua opinião em relação ao assunto e acredita que podemos mudar esse cenário?
Quem no BRASIL ganha bem? RSSS 
Eu acho que todos os profissionais estão certos, a valorização profissional e financeira é muito ruim, mas isso ocorre no âmbito laboratorial.
Na minha singela opinião você precisa se impor e mostrar seu trabalho, para os competentes sempre há empregos com salários diferenciados, para os que não se dedicam a mesmice permanece.
ALUNOS APRENDENDO SOBRE COLORAÇÃO.

9. A falta de regulamentações na nossa área, contribuem para que ocorra por exemplo uma sobrecarga de trabalho que pode desencadear numa redução na qualidade dos exames, como resultados falso-negativo. Com base na sua vivência na bancada de laboratório de rotina, qual seria uma quantidade ideal diária de exames escrutinados e você acredita que falta possuirmos mais representantes que lutem pelos profissionais na área?
As Normatizações Brasileiras preconiza 10 lâminas por hora, eu concordo com esse padrão (MANUAL DE GESTÂO DE QUALIDADE PARA LABORATÓRIO DE CITOPATOLOGIA - INCA).
O problema na qualidade dos exames é a demanda política e laboratorial do Brasil. Sobrecarregam algumas organizações laboratoriais e outras têm uma demanda inferior, ocorrendo um monopólio de exames, salários e rotina laboratorial.
Outro ponto a focar é a educação continuada que a maioria dos laboratórios não investi e não preconiza como efetivo para qualidade dos exames.
E poucos laboratórios oferecem controle de qualidade devido o salário diferenciado desses profissionais e quando oferecem não pagam um salário para atrair esses profissionais;
E na maioria das vezes o próprio profissional não luta pela profissão.

10. Temos muitos estudantes e profissionais iniciantes da área como leitores do nosso site, se pudesse dar um conselho para essa nova geração, qual você daria?
O sucesso para a vida pessoal e profissional na minha visão:
  •   Não escute os pessimistas a energia deles atrapalha a sua energia;
  •   Se você não perguntar a resposta sempre será NÃO;
  •   Se você não for atrás do que quer, Nunca vai ter;
  •   Seja feliz e repasse essa felicidade;
  •   90% do seu sucesso é simplesmente insistir (Woody Allen). 
  •  Procure a DEUS SEMPRE, se você não acreditar procure uma energia ou algo em que possa evoluir espiritualmente como ser humano.
ALUNOS DO ESTÁGIO.

Agradecemos a entrevistada professora Elen Cristina por ter aceito ao nosso convite e participado do nosso bate-papo. Uma honra tê-la aqui, por ter disponibilizado um pouco do seu tempo para responder as nossas perguntas e compartilhado a sua vivência conosco, obrigada!

CITOLOGIA EM MEIO LÍQUIDO (PARTE 1)

O método de Citologia Convencional tem mais de 90 anos e foi desenvolvido por George Papanicolaou, é um procedimento consagrado na prevenção e detecção do câncer do colo do útero. Porém, ao longo dos anos foi identificado por diversos cientistas de várias partes do mundo algumas interferências no método como a sua baixa sensibilidade para detectar lesões de alto grau, e com o objetivo de aumentar a sensibilidade e tornar o teste mais eficiente foi introduzida pela Food and Drug Administration (FDA) em 1996, o método de Citologia Em Meio Líquido para uso em ginecologia e em outras especialidades.
No Brasil, a Citologia em Meio Líquido ou Citologia em Base Líquida começou a ser introduzida pelos grandes laboratórios no início dos anos 2000, o alto custo do método e a pouca concorrência de mercado foram um grandes obstáculos iniciais para que esse procedimento demorasse para ser implantado pelos donos de grandes centros de exames existentes. As primeiras marcas a criarem seus testes e as introduzirem em nosso País foram as SurePath™ Liquid-Based Pap Test - BD e a ThinPrep Pap Test - Hologic, cada qual utilizando a sua própria receita para o líquido responsável pela preservação celular, no caso do método por SurePath sabe-se que é usado o etanol em sua fórmula e no ThinPrep é usado metanol.
Atualmente a gama de empresas a oferecerem o método aumentou, a concorrência de mercado tornou o teste mais acessível, os estudos recentes identificando a eficácia do procedimento pelos cientistas brasileiros e o fato de muitos planos de saúde introduzirem em sua carteira a realização do teste, foram alguns fatores que fizeram a Citologia em Meio Líquido se tornar mais popular em nosso País nos últimos anos, sendo cada vez mais adotada pelo grande, médio e pequeno empresário. Algumas dessas empresas são as Liqui-PREP - Sirius Diagnósticos e a CellPreserv - Kolplast, cada qual oferecendo diferenciais e equipamentos que podem abranger as pequenas, as médias e as grandes rotinas laboratóriais.
Outros avanços que a Citologia em Meio Líquido proporcionou que devemos destacar é a possibilidade da realização de pesquisa do DNA do Papilomavírus humano (HPV) na amostra, com isso na mesma colheita a paciente pode ser beneficiada na realização do exame cérvico-vaginal (que tem a capacidade de identificar a presença de lesões precursoras do câncer do colo uterino) e também poderá realizar o exame de biologia molecular como os de Captura Híbrida II ou de HPV - Testing (ambos podem identificar a presença do vírus), identificando-o positividade ou negatividade da amostra para o grupo de alto risco ou de baixo risco oncogênico ou fazer a pesquisa do subtipo do vírus. A realização de exames co-testes são cada vez mais comuns e solicitadas pelos médicos. E um segundo avanço que a Citologia em Meio Líquido possibilitou foi o desenvolvimento de mecanismo de escrutínio de lâminas automatizado como o FocalPoint desenvolvido pela BD (SurePath) e o Imaging System criado pelo Hologic (ThinPrep).
Em nossa vivência laboratorial, nós do Citologia Brasil já tivemos contato com 3 dos 4 métodos citados nesse texto, são eles o ThinPrep, SurePath e o CellPreserv. Para estarmos aptos para a execução dos testes somos previamente submetidos a um treinamento realizado pelas empresas, o treinamento é de supra importância, pois há uma evidente variação formas celulares da Citologia em Meio Líquido para o que somos acostumados a ver na Citologia Convencional, dicas essas que devem ser claramente esclarecidas e informadas para o profissional responsável pelo escrutínio da amostra. 
Como esse assunto gera muito conteúdo, resolvemos dividir o tema em duas partes, nesse primeiro texto introduzimos sobre a história do método, a chegada da Citologia em Meio Líquido no Brasil e citamos os métodos atualmente disponíveis no mercado, na próxima parte falaremos das principais diferenças entre a Citologia Convencional e a Citologia em Meio Líquido. Acompanhe o Citologia Brasil para não perder ao nosso conteúdo! Esperamos que goste dos assuntos abordados aqui e conte para nós se vocês trabalham com a Citologia em Meio Líquido e qual é o método utilizado.

II SIMPÓSIO DE CITOLOGIA ONCÓTICA DO IAL

No dia 25 de outubro de 2019 aconteceu em São Paulo, no prédio InRAD, o II Simpósio de Citologia Oncótica evento organizado e idealizado pelos servidores do setor de Citologia Oncótica do Instituto Adolfo Lutz. O encontro contou com uma organização exemplar, palestrantes ótimos e com profissionais da área oriundos de diferentes localidades do Brasil, o que possibilita uma excelente troca de experiências e de contato, network é muito importante.
O Simpósio teve o seu início de palestras e debates às 9h e o término ocorreu por volta das 18h, contando com intervalos de coffee-break e de almoço ambos fornecido pelos parceiros do evento e consumido no local. Após o evento ocorreu uma confraternização entre palestrantes, organizadores e participantes numa pizzaria da região.
O simpósio contou com um total de 7 apresentações, que abordaram diferentes temas, destacamos aqui as palestras que indagaram sobre as recentes ferramentas de inovações para a nossa área, assuntos que foram abordados pelo Dr. Mauro Sayeg que falou sobre a Citopatologia na era da Biologia Molecular e pelo Dr. Gustavo Focchi que falou sobre os marcadores de imuno-histoquímica, tivemos uma excelente apresentação sobre citologia anal com a Professora da Sandra Heraclio e uma informativa aula sobre Efeitos Actínicos provocados pela radioterapia feita pelo citologista Thiago de Souza Cruz, esse que é um grande desafio para nós citogistas, citotecnologistas e citopatologistas.



Além das ótimos palestras e discussões de casos, o evento proporcionou alguns sorteios de livros aos seus mais de 130 participantes e sorteio de uma inscrição para o evento que acontecerá em 2020 em Ouro Preto, o Âmbar. A LivroMed Paulista estava presente com seu stand de vendas e tinha disponível no local diversos exemplares da área. Para finalizar essa publicação, queremos parabenizar aos organizadores do evento, sabemos o quanto é desafiador realizar algo de grande porte, mas sabemos que quando fazemos com amor, o sucesso é garantido.
O Simpósio de Citologia Oncótica organizado pelo Insituto Adolfo Lutz acontece bianualmente, portanto o próximo evento será em 2021 e já estamos ansiosos pelo novo encontro! O setor de Citologia Oncótica do Instituto Adolfo Lutz organiza o Clube de Citologia, por ano são um total de 4 reuniões, evento esse que acontece no prédio da Instituição, para saber as datas para 2020, recomendamos que siga a página deles no Facebook, acesse CLICANDO AQUI.

19º CONGRESSO BRASILEIRO DE CITOLOGIA CLÍNICA

Entre os dias 26 a 28 de setembro de 2019 aconteceu na cidade de Salvador, na Bahia, o 19º Congresso Brasileiro de Citologia Clínica (#CBCC2019), evento idealizado pela Sociedade Brasileira de Citologia Clínica, e nós do Citologia Brasil fomos conferir ao evento e nesse post vamos contar tudo sobre o que aconteceu durante os dois dias.

Chegamos em Salvador na manhã do dia 26 e fomos ao Wish Hotel no período da tarde e encontramos um evento organizado, com vários stands de várias empresas voltados a nossa área, prova de título, apresentações de artistas regionais e com palestras e mini-cursos com palestrantes e professores da maior qualidade.
Chegando lá recebemos um crachá de identificação e uma sacola com um folder sobre o evento, bloco de notas e caneta. 

O evento contou com diversos stands de diversas empresas do nosso seguimento, como empresas de microscópio, de biologia molecular, livrarias e de conselhos regionais. Um dos stands presente no evento foi a Livraria LivroMed, que vendeu no local diversos livros voltados a área da saúde e conseguimos alguns bons exemplares com ótimos preços, entre eles o lançamento da empresa o Atlas de Citopatologia da Mama do escrito por Berlley Meira.

Sobre as palestras, o evento contou com diversos palestrantes vindos de várias partes do Brasil, palestrantes consagrados em sua área, com currículos invejáveis e que abordaram diferentes assuntos relacionados a nossa área. Temos que ressaltar que voltamos para a casa com muito aprendizado no bolso e com muita informação para compartilhar. Abaixo algumas fotos de algumas palestras que presenciamos.






O Congresso teve também com a parte de banner, trabalhos enviados por diversos alunos e pesquisadores de várias regiões do nosso País, que abordaram vários assuntos interessantes e no final teve uma premiação dos melhores trabalhos.
Por fim, temos que parabenizar o idealizador e Presidente do Congresso o Bruno Sena, o Presidente da SBCC o Carlos Eduardo Queiroz Lima e a todos envolvidos na organização do evento, nós do Citologia Brasil achamos tudo perfeito, desde da organização, do espaço, os stands, palestras e palestrantes. Sabemos o quanto é difícil idealizar e montar algo deste porte, mas quando se faz com amor o sucesso é garantido. 
Para quem não sabe em 2020 teremos o 20º Congresso Brasileiro de Citologia Clínica e a cidade sede será Curitiba, se Deus quiser estaremos lá!



ENTREVISTA COM A MÉDICA GINECOLOGISTA FLÁVIA MENEZES



Temos mais uma grande entrevistada em nosso site, pela primeira vez recebemos aqui um profissional da área médica, a Dra. Flávia Menezes é ginecologista, graduada em Medicina pela Universidade Federal de Rio de Janeiro e aceitou ao nosso convite para esse super bate-papo, nele falamos sobre a importância da citologia e dos profissionais citotecnologistas, abordamos sobre a situação atual do nosso País em relação aos casos de câncer do colo do útero, sobre a sua carreira e também sobre a sua conta no Instagram (@dra.FlaviaMenezes29), lugar esse que ela fala abertamente sobre HPV, lesões e dúvidas relacionadas ao câncer do colo do útero, não deixe de segui-la depois de conferir a entrevista abaixo.

1. Dra. Flávia Menezes, qual é a sua formação? Qual é a sua função, as suas atribuições e as suas responsabilidades atuais? 
Sou formada pela UFRJ (1996), fiz residência também na UFRJ em Ginecologia e Obstetrícia. Consegui meu Titulo de Especialista em Genitoscopia em 2009. Logo após a conquista do título em Genitoscopia, fui trabalhar como colposcopista no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, onde fiquei por 8 anos. Aliás, onde me aperfeiçoei e vi de tudo em relação ao tema. Hoje, não mais trabalho em serviço público, faço apenas os exames de colposcopia, vulvoscopia e vaginoscopia, no meu consultório particular. Sou referência de dois grandes planos de saúde e também realizo consultas particulares.

2. Você possui uma conta no Instagram (@dra.flaviamenezes29), nela você publica informações sobre a importância da colposcopia e da citologia. Você costuma receber muitas dúvidas do público leigo em suas redes e qual é a sua forma de auxiliar virtualmente esse público?
Obviamente recebo centenas de dúvidas, afinal o maior problema do HPV é a desinformação sobre o tema, que traz grandes medos e ansiedades.
Minha vida é muito corrida, faço uma média de 400 colposcopias por mês. Não tenho muito tempo para responder perguntas individualmente, mas tento publicar temas com linguagem bem simples para que todos possam entender. O grande fato que me motivou abrir páginas nas redes sociais, foi a falta de conhecimento das minhas pacientes sobre o HPV. Aliado a isso, a falta de informação adequada quando se pesquisa no Google. 

3.  Qual é a sua relação com o laudo dos exames citopatológico? Acredita que as informações são de fácil compreensão por seus colegas médicos, acredita que o modelo do laudo emitido pelas redes de laboratórios no Brasil e do SUS podem ser aprimoradas?
Minha relação com os laudos de citologia É TOTAL. Eu não faria o que faço hoje, se não fossem as boas citologias realizadas, afinal quase 100% das paciente que são encaminhadas para o meu consultório, o foram devido a um exame citológico alterado. Ou seja, o meu trabalho inicia após um bom trabalho de vocês, citotecnologistas. Vocês são a base da prevenção do câncer de colo do útero. Vocês salvam vidas.

4. Em 2018 você foi convidada a palestrar no III Congresso Brasileiro de Citotecnologia no INCA - RJ, como surgiu o convite e como foi para você participar de um evento que tinha em sua maioria um público formado por profissionais atuantes na Citologia?
O convite surgiu da Prof. Simone Evaristo e foi uma grande emoção poder agradecer pessoalmente o trabalho de vocês. Citologia, histologia, colposcopia, e agora a biologia molecular, trabalham em conjunto. Um exame não existe sem o outro, eles se complementam. Conforme um dito popular: “se eu vi mais longe (através do meu colposcópio), foi por estar de pé sobre ombros de gigantes (vocês, citotecnologistas)”.

5. Em sua vivência profissional, você já testemunhou situações em que o exame citopatológico foi importante para auxiliar no correto diagnóstico, desafiando o exame de colposcopia e até o exame de anatomopatológico? Como procede nessas situações?
Isso é uma vivência bastante comum em meu consultório. Recebo paciente com uma citologia de alto grau, ou possibilidade de lesão de alto grau, porém a colposcopia é completamente normal com JEC não visível.
Posso dizer que aquela citologia está errada, afinal a “médica” não conseguiu observar qualquer lesão? Claro que não, a especificidade da citologia é bastante alta, essa lesão está escondida dentro do canal endocervical. E dentro do canal endocervical, os citotecnologistas são os meus olhos!!!! Só vocês são capazes de fazer esse tipo de diagnóstico. Vocês serão os principais responsáveis em salvar o amor de alguém!!!! 

6. Qual é o caso em que o exame citopatológico auxiliou no correto diagnóstico da paciente que mais te chamou a atenção em sua carreira, pode compartilhar esse caso conosco do Citologia Brasil?
Tive uma paciente de 45 anos com diagnóstico de carcinoma invasor na citologia. Colposcopia normal com JEC não visível. Indiquei obviamente uma conização para avaliação do canal endocervical. Histopatológico do cone evidenciou um NIC 3 com margens livres. Na revisão pós conização, a colposcopia normal, mas como sempre, coletei nova citologia. Para minha surpresa o resultado da citologia foi carcinoma invasor. Submeti a paciente a nova conização, cujo histopatológico novamente evidenciou NIC 3 com margens livres. Na revisão pós reconização, a história se repetiu, nova citologia evidenciando carcinoma invasor. Encaminhei a paciente para uma histerectomia que evidenciou carcinoma microinvasor, bem próximo ao orifício cervical interno!!!!! Aí está um grande exemplo da citologia, salvando vidas!!!!!

7. O Ministério da Saúde e o INCA determinam condutas mediantes aos resultados de exames citopatológicos, você costuma seguir as recomendações determinadas por essas Instituições? Qual é a sua relação com resultados de atípias (ASC-US e ASC-H), acredita que são resultados que devem ser observados com atenção?
As recomendações do Ministério da Saúde e o INCA são de grande importância, mas serão sempre recomendações, as quais deverão ser seguidas na maioria dos casos. Mas temos que individualizar cada caso. Um diagnóstico de ASC-US pode não trazer qualquer ansiedade para uma paciente, mas pode acabar com a vida de outra paciente mais ansiosa, que não se conforma com o diagnóstico de uma atipia de significado indeterminado. Como todos falam: cada caso é um caso. Por isso não gosto muito de protocolos. Prefiro estudar a fisiologia, a etiologia e a epidemiologia das doenças para entender melhor do assunto e fazer os meus raciocínios diagnósticos, e até mesmo para entender o porque de cada protocolo. Sobre o ASC-H, não tenho muito que discutir, a indicação é encaminhamento imediato para colposcopia, é inaceitável a repetição da citologia.

8. Há novas tecnologias da área, todas elas com o intuito de melhorar a sensibilidade e especifidade do exame citopatológico e de prevenção do câncer do colo do útero. Qual é a sua relação com método de citologia em meio-líquido e dos testes de biologia molecular, são procedimentos que adota e indica a suas pacientes?
Sobre os métodos de citologia, se convencional ou meio-líquido, isso não tem diferença para mim, que nada entendo sobre aquelas “bolinhas” que vocês enxergam...rs. O que vejo na minha experiência clínica, que o importante não é a técnica. Mas quem faz, e como faz, o exame. Não adianta eu ter toda a tecnologia do mundo, mas me obrigar a ler “trocentas” lâminas por hora....No final, a qualidade irá cair....isso é óbvio. E sabemos que isso é uma realidade!!!
Sobre a biologia molecular, ela entrou como mais um complemento na prevenção do câncer de colo de útero. É mais uma ferramenta para nos orientar e obviamente a utilizo muito. 

9. O tempo de progressão para uma lesão precursora do câncer até atingir uma neoplasia é longo e o exame de Papanicolaou é um teste relativamente barato, porém esse é o quarto câncer que mais atinge mulheres em nosso País, esse dado te assusta? Como acha que devemos proceder para mudar essa estatística?
Isso muito me assusta, pois se este índice está tão alto é porque muitas mulheres ainda não tem acesso ao sistema de saúde. Nosso país não investe em saúde!!!

10. Temos muitos estudantes e profissionais iniciantes da área como leitores do nosso site, se pudesse dar um conselho para essa nova geração, qual você daria?
Cada vez mais, os desafios nas nossas profissões serão maiores. Estudem, se especializem e foquem. Sejam o melhor naquilo que você mais gostar. O mundo será dos especialistas, daqueles que não poderão ser substituídos por computadores e inteligência artificial. Seja o melhor no que você ama!!

Agradecemos a entrevistada Dra. Flávia Menezes por ter aceito ao nosso convite e participado do nosso bate-papo. Uma honra tê-la aqui, por ter disponibilizado um pouco do seu tempo para responder as nossas perguntas e compartilhado a sua vivência conosco, obrigada!

ENTREVISTA COM A BIÓLOGA SIMONE MAIA EVARISTO


Temos mais uma grande entrevistada iniciamos dizendo que é uma honra tê-la aqui em nosso site, pois ela desempenha um papel muito importante na nossa categoria, na formação citotécnicos em nosso País e é uma das profissionais mais renomadas da nossa área. Recebemos hoje Simone Maia Evaristo, graduada em Ciências Biológicas - Universidade Gama Filho (1990), especialista em Citologia Oncótica pela pela UFRJ (2000)Mestrado Profissional (UNIRIO)Presidente da Associação Nacional de Citotecnologia (ANACITO), Fellow da Academia Internacional de Citologia (IAC). Atualmente é Bióloga / Citotecnologista atuando como docente do curso de formação técnica de nível médio de Técnico em Citopatologia - INCA / EPSJV (Fiocruz). 

1. Simone, queremos saber, quando você se apaixonou pela Citologia? Você se recorda das maiores dificuldades encontradas no início da sua carreira?
Descobri as técnicas citológicas por acaso, me foi apresentado por uma técnica de análises clínicas, durante um estágio no Laboratório do Exército, ela me falou sobre a área e que eu tinha o perfil, então me indicou o local onde poderia fazer o curso, no INCA, mesmo sem ter noção do que era fui conhecer e estou lá até hoje. Antes de terminar o curso fui convidada para trabalhar em um laboratório particular, a princípio como estagiária e quando me formei fui efetivada. Depois passei num concurso público como citotécnica, onde trabalhei no laboratório/disciplina de Citopatologia da Faculdade de Medicina, no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) da UNIRIO, lá trabalhei com citologia ginecológica e não ginecologia, no preparo e leitura, além de dar aulas práticas de citologia ginecológica na graduação de medicina. Atualmente sou concursada no INCA como Bióloga especialista em Citotecnologia, atuando principalmente na docência. 

2. Atualmente você faz parte do time de citotecnologistas do INCA (Instituto Nacional do Câncer) e é docente do curso de formação técnica (Técnico em Citopatologia - INCA), qual é a sua função, atribuições e responsabilidades na instituição?
A missão do INCA é o Ensino, Assistência e Pesquisa, então, além de docente no curso de formação do Técnico em Citopatologia, participamos de projetos científicos nacionais e internacionais, organização de cursos e encontros científicos, orientação em TCC, no monitoramento interno e externo da qualidade, produção cientifica como artigos, livros
 Estácio - Curso de Tecnólogo em Citologia (formatura)
3. Dedicastes a lecionar Citologia para alunos do curso técnico, quais são os maiores desafios para ensinar citologia hoje em dia para alunos oriundos do Brasil inteiro?
Já lecionei em pós-graduações, formação de nível superior, além da formação técnica, todos na área da Citotecnologia. Independente da origem regional do aluno o desafio para a formação é levá-lo ao aprimoramento da acuidade visual para a liberação do laudo técnico fazemos isso com a “imersão” nos casos clínicos e vivência prática na rotina do laboratório de Citopatologia. Atualmente, mesmo o curso sendo de formação técnica de nível médio a maioria dos alunos que estamos recebendo já vem com graduação, especialização e até mestrado, mas a vivência prática que oferecemos consegue igualar as diferenças na formação. 

4. Preside a Associação Nacional de Citotecnologia (ANACITO) o que permite ter um amplo conhecimento da recente conjuntura da prática da citologia no Brasil, como você avalia a atual situação da citotecnologia no nosso País considerando a qualidade do profissional recém-formado e o presente cenário do mercado de trabalho?
A formação em Citotecnologia historicamente começou como treinamento em serviço, aqui tivemos a primeira escola oficial em 1962, a Escola das Pioneiras Sociais, que formou no Brasil e para América Latina, funcionou por mais ou menos 13 anos, outras escolas surgiram mas também não duraram muito, assim perdurou por muito tempo o treinamento em serviço, enquanto nos outros países ocorreram formações regulares e regulamentação da profissão, aqui a pouco tempo foi considerado uma ocupação no CBO (cadastro brasileiro de ocupações) e regulamentação pelo MEC como nível médio, internacionalmente já é uma graduação e / ou especialização. Esse atraso nessas definições nos trouxe a situação de hoje, a precarização do trabalho, o formando concluí totalmente desinformado e nem a quem recorrer, como não se tem muita definição jurídica no país se sujeita a qualquer sobrecarga de trabalho (número de lâminas) sem saber se o salário corresponde ou não. 

5. Um assunto muito discutido em reuniões entre os profissionais que praticam a citologia é a valorização do profissional, como melhores remunerações e condições de trabalho. Qual é a sua opinião em relação ao assunto e acredita que podemos mudar esse cenário?
Infelizmente não é uma área muito unida, até por conta de tantos anos de desvalorização e invisibilidade. Ao invés dos Conselhos de Classe ficarem brigando entre si, deveriam era se apoiarem para melhorar esse cenário. Independente da sua graduação, você tem de ser qualificado o seu Conselho precisa garantir isso, cuidando para que se tenha no mercado pessoal preparado.  Acredito que o primeiro passo seria conhecer a realidade nos outros países, ver se eles têm os mesmos problemas ou como resolveram, principalmente no quesito carga horária x número de lâminas x salário. 
I Jornada Cearense de Citotecnologia

6. Você considera que um bom profissional é aquele que nunca deixa de estudar e deve estar sempre atualizado nas novidades da área? E quais são as suas perspectivas para o futuro da nossa área com o avanço de tecnologias como telepatologia, biologia molecular e citologia em meio-líquido?

A Citotecnologia exige uma atualização continua, a análise da imagem celular é subjetiva, que as vezes nos prega peças, precisamos sempre estar reavivando nossas memorias. As tecnologias vieram para agregar nosso trabalho, aqui podem ser novidades, mas já são muito utilizadas lá fora, em alguns países, como por exemplo nos EUA, já foram incorporadas ao currículo do Citotecnologista, lá como na Europa e em alguns países da América Latina, eles leem citologia de outros sítios anatômicos, aplicam técnicas mais avançadas,  participam de exames intraoperatórios e nas pesquisas cientificas. 

7. A equipe de citotecnologistas do INCA realiza um importante trabalho relacionado ao Controle de Qualidade de amostras citológicas, que é o Monitoramento Externo de Qualidade, conhecido como MEQ. Queremos saber mais sobre como esse procedimento que é realizado pela equipe do INCA e qual é a importância do MEQ para a prática da citotecnologia brasileira?
O rastreio do câncer de colo do útero é considerado um excelente método, referenciado como primordial para os programas de combate ao câncer no mundo, mas por fatores diversos, alheio a nossa vontade, pode ocasionar “falhas” (principalmente falsos-negativos) nos resultados, cuja consequência pode ser a vida de uma mulher. O exame de prevenção é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, realizado por laboratórios públicos e privados prestadores de serviços para o SUS/MS. O MEQ tem como principal função avaliar a qualidade desses resultados. O INCA realiza a releitura de uma amostra selecionada de um determinado período, dos laboratórios credenciados do Estado do Rio de Janeiro, sendo elas 10 por cento dos exames considerados negativos, todos os positivos e insatisfatórios. E elaborado um relatório e os resultados divergentes são fotografados e o laboratório em questão é convidado para uma reunião para discutir os casos. A proposta não é ser punitivo, mas aprimorar a qualidade do exame citopatológico, mas se persistirem as “diferenças” fica a cargos dos Gestores do SUS, tomar as devidas providências. Para a Citotecnologia espero que ele perceba o quanto pode afetar a sua qualidade não ter um parâmetro de quantidade e qualidade das amostras a ser analisadas, porque um falso-positivo, será analisado por outro profissional, no mínimo, mas um falso-negativo ele será considerado o único “culpado”.
Evento realizado em Moçambique
8. Em novembro de 2018 foi realizado no INCA (Rio de Janeiro) o III Congresso Brasileiro de Citotecnologia e a III Jornada Internacional de Citotecnologia, evento esse que reuniu profissionais vindo de várias regiões do Brasil e estrangeiros, como foi para você organizar o evento? Acredita que o nosso País precisa reunir mais os profissionais da área em cursos, congressos, reuniões e conferências?
O nosso primeiro evento foi em 2009, fruto do “Projeto Citotécnico” desenvolvido pelo Coordenação de Ensino do INCA e a SITEC. Esse projeto surgiu principalmente com o intuito do reconhecimento e regulamentação do citotécnico, modernização e credenciamento junto ao MEC do nosso curso. Eu fiquei responsável por agregar esses profissionais, assim foi criada a ANACITO, que leva no nome Citotecnologia, uma palavra que se refere a uma área de atuação e assim agregar diferentes níveis de formação. A organização de um evento é sempre muito trabalhosa, mas o resultado gratificante. Como fruto do primeiro evento, conseguimos que o Citotécnico entrasse como uma das prioridades no programa que estava sendo desenvolvido na época, o PROFAPS, com isso foi construído as diretrizes curriculares e entramos no Catálogo do MEC (tem falhas, mas foi um avanço), em outro evento conseguimos ser inseridos no CBO, e nesse último evento, criamos um grupo para trabalhar a formação em Citotecnologia nos países da CPLP (comunidade de países de língua portuguesa). A troca de conhecimento é infinita, aqui não tem “hierarquia” profissional, somos uma equipe onde todos são importantíssimos. E, sim, precisamos nos reunir, ficamos isolados do mundo por muito tempo, estagnados, só conhecer / aprender o que a “outra” profissão dominante (kkk) queria, acreditando que a nossa atuação é limitada, com isso nos outros países, onde a profissão que teve o mesmo começo, treinamento em serviço, hoje em dia é uma graduação/especialização muito respeitada. 

9. Você sempre destaca em suas palestras e aulas que não se considera uma Citologista, mas sim uma Citotecnologista. Frase essa que pode gerar muitas discussões entre os profissionais da área, queremos saber na sua opinião: por que devemos nos considerar um Citotecnologista?
Me desculpem se eu estiver enganada, mas acho que no Brasil se usa o termo citologista clínico = Citopatologista e já ouvi Citologista dizer que não faz rastreamento e sim diagnóstico.  Bom, eu faço rastreamento e amo isso, além disso é o termo que surgiu por conta da técnica de Papanicolaou, técnica essa que ele não desenvolveu sozinho. Coloco aqui as palavras do patologista Jose Maria Barcellos, coordenador do curso na época das Pioneiras Socias: “Citotecnologia é a técnica cientifica do estudo das células do corpo humano em condições normais e patológicas examinadas ao microscópio e o Citotecnologista é o elemento chave capaz de solucionar o problema do diagnóstico precoce do câncer no que tange a recursos humanos”.
Existe uma definição atual e mais abrangente, feita pela American Society of Cytopathology (2006), eles consideram Citotecnologista = Citologista, um profissional especializado na análise de amostras para fins de triagem ou diagnóstico de processos de doença a nível celular, especialista que auxilia na coleta e preparação de amostra, detecção e interpretação de células normais e anormais e de agentes infecciosos, colorações especiais, imunocitoquímica e técnicas moleculares e podem ser responsáveis por todas as atividades relacionadas à análise pré e pós-analítica, selecionar e operacionalizar equipamentos, além de atuar na área de supervisão, gerenciando  e educacional. Finalizando é minha opção usar Citotecnologia, me sinto, mas ampla e autêntica.
Evento da Marinha
10. Temos muitos estudantes e profissionais iniciantes da área como leitores do nosso site, se pudesse dar um conselho para essa nova geração, qual você daria?
Lembrar sempre que está lidando com uma vida, salvando-a de uma doença silenciosa, talvez você seja a única pessoa a ler aquela lâmina e que seu laudo pode ser o que a irá separar a vida da morte. 


Agradecemos a entrevistada Simone Maia Evaristo por ter aceito ao nosso convite e participado do nosso bate-papo. Uma honra tê-la aqui, quem a conhece sabe o quanto você é uma profissional exemplo e aprendemos muito contigo!