ENTREVISTA COM A MÉDICA GINECOLOGISTA FLÁVIA MENEZES



Temos mais uma grande entrevistada em nosso site, pela primeira vez recebemos aqui um profissional da área médica, a Dra. Flávia Menezes é ginecologista, graduada em Medicina pela Universidade Federal de Rio de Janeiro e aceitou ao nosso convite para esse super bate-papo, nele falamos sobre a importância da citologia e dos profissionais citotecnologistas, abordamos sobre a situação atual do nosso País em relação aos casos de câncer do colo do útero, sobre a sua carreira e também sobre a sua conta no Instagram (@dra.FlaviaMenezes29), lugar esse que ela fala abertamente sobre HPV, lesões e dúvidas relacionadas ao câncer do colo do útero, não deixe de segui-la depois de conferir a entrevista abaixo.

1. Dra. Flávia Menezes, qual é a sua formação? Qual é a sua função, as suas atribuições e as suas responsabilidades atuais? 
Sou formada pela UFRJ (1996), fiz residência também na UFRJ em Ginecologia e Obstetrícia. Consegui meu Titulo de Especialista em Genitoscopia em 2009. Logo após a conquista do título em Genitoscopia, fui trabalhar como colposcopista no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, onde fiquei por 8 anos. Aliás, onde me aperfeiçoei e vi de tudo em relação ao tema. Hoje, não mais trabalho em serviço público, faço apenas os exames de colposcopia, vulvoscopia e vaginoscopia, no meu consultório particular. Sou referência de dois grandes planos de saúde e também realizo consultas particulares.

2. Você possui uma conta no Instagram (@dra.flaviamenezes29), nela você publica informações sobre a importância da colposcopia e da citologia. Você costuma receber muitas dúvidas do público leigo em suas redes e qual é a sua forma de auxiliar virtualmente esse público?
Obviamente recebo centenas de dúvidas, afinal o maior problema do HPV é a desinformação sobre o tema, que traz grandes medos e ansiedades.
Minha vida é muito corrida, faço uma média de 400 colposcopias por mês. Não tenho muito tempo para responder perguntas individualmente, mas tento publicar temas com linguagem bem simples para que todos possam entender. O grande fato que me motivou abrir páginas nas redes sociais, foi a falta de conhecimento das minhas pacientes sobre o HPV. Aliado a isso, a falta de informação adequada quando se pesquisa no Google. 

3.  Qual é a sua relação com o laudo dos exames citopatológico? Acredita que as informações são de fácil compreensão por seus colegas médicos, acredita que o modelo do laudo emitido pelas redes de laboratórios no Brasil e do SUS podem ser aprimoradas?
Minha relação com os laudos de citologia É TOTAL. Eu não faria o que faço hoje, se não fossem as boas citologias realizadas, afinal quase 100% das paciente que são encaminhadas para o meu consultório, o foram devido a um exame citológico alterado. Ou seja, o meu trabalho inicia após um bom trabalho de vocês, citotecnologistas. Vocês são a base da prevenção do câncer de colo do útero. Vocês salvam vidas.

4. Em 2018 você foi convidada a palestrar no III Congresso Brasileiro de Citotecnologia no INCA - RJ, como surgiu o convite e como foi para você participar de um evento que tinha em sua maioria um público formado por profissionais atuantes na Citologia?
O convite surgiu da Prof. Simone Evaristo e foi uma grande emoção poder agradecer pessoalmente o trabalho de vocês. Citologia, histologia, colposcopia, e agora a biologia molecular, trabalham em conjunto. Um exame não existe sem o outro, eles se complementam. Conforme um dito popular: “se eu vi mais longe (através do meu colposcópio), foi por estar de pé sobre ombros de gigantes (vocês, citotecnologistas)”.

5. Em sua vivência profissional, você já testemunhou situações em que o exame citopatológico foi importante para auxiliar no correto diagnóstico, desafiando o exame de colposcopia e até o exame de anatomopatológico? Como procede nessas situações?
Isso é uma vivência bastante comum em meu consultório. Recebo paciente com uma citologia de alto grau, ou possibilidade de lesão de alto grau, porém a colposcopia é completamente normal com JEC não visível.
Posso dizer que aquela citologia está errada, afinal a “médica” não conseguiu observar qualquer lesão? Claro que não, a especificidade da citologia é bastante alta, essa lesão está escondida dentro do canal endocervical. E dentro do canal endocervical, os citotecnologistas são os meus olhos!!!! Só vocês são capazes de fazer esse tipo de diagnóstico. Vocês serão os principais responsáveis em salvar o amor de alguém!!!! 

6. Qual é o caso em que o exame citopatológico auxiliou no correto diagnóstico da paciente que mais te chamou a atenção em sua carreira, pode compartilhar esse caso conosco do Citologia Brasil?
Tive uma paciente de 45 anos com diagnóstico de carcinoma invasor na citologia. Colposcopia normal com JEC não visível. Indiquei obviamente uma conização para avaliação do canal endocervical. Histopatológico do cone evidenciou um NIC 3 com margens livres. Na revisão pós conização, a colposcopia normal, mas como sempre, coletei nova citologia. Para minha surpresa o resultado da citologia foi carcinoma invasor. Submeti a paciente a nova conização, cujo histopatológico novamente evidenciou NIC 3 com margens livres. Na revisão pós reconização, a história se repetiu, nova citologia evidenciando carcinoma invasor. Encaminhei a paciente para uma histerectomia que evidenciou carcinoma microinvasor, bem próximo ao orifício cervical interno!!!!! Aí está um grande exemplo da citologia, salvando vidas!!!!!

7. O Ministério da Saúde e o INCA determinam condutas mediantes aos resultados de exames citopatológicos, você costuma seguir as recomendações determinadas por essas Instituições? Qual é a sua relação com resultados de atípias (ASC-US e ASC-H), acredita que são resultados que devem ser observados com atenção?
As recomendações do Ministério da Saúde e o INCA são de grande importância, mas serão sempre recomendações, as quais deverão ser seguidas na maioria dos casos. Mas temos que individualizar cada caso. Um diagnóstico de ASC-US pode não trazer qualquer ansiedade para uma paciente, mas pode acabar com a vida de outra paciente mais ansiosa, que não se conforma com o diagnóstico de uma atipia de significado indeterminado. Como todos falam: cada caso é um caso. Por isso não gosto muito de protocolos. Prefiro estudar a fisiologia, a etiologia e a epidemiologia das doenças para entender melhor do assunto e fazer os meus raciocínios diagnósticos, e até mesmo para entender o porque de cada protocolo. Sobre o ASC-H, não tenho muito que discutir, a indicação é encaminhamento imediato para colposcopia, é inaceitável a repetição da citologia.

8. Há novas tecnologias da área, todas elas com o intuito de melhorar a sensibilidade e especifidade do exame citopatológico e de prevenção do câncer do colo do útero. Qual é a sua relação com método de citologia em meio-líquido e dos testes de biologia molecular, são procedimentos que adota e indica a suas pacientes?
Sobre os métodos de citologia, se convencional ou meio-líquido, isso não tem diferença para mim, que nada entendo sobre aquelas “bolinhas” que vocês enxergam...rs. O que vejo na minha experiência clínica, que o importante não é a técnica. Mas quem faz, e como faz, o exame. Não adianta eu ter toda a tecnologia do mundo, mas me obrigar a ler “trocentas” lâminas por hora....No final, a qualidade irá cair....isso é óbvio. E sabemos que isso é uma realidade!!!
Sobre a biologia molecular, ela entrou como mais um complemento na prevenção do câncer de colo de útero. É mais uma ferramenta para nos orientar e obviamente a utilizo muito. 

9. O tempo de progressão para uma lesão precursora do câncer até atingir uma neoplasia é longo e o exame de Papanicolaou é um teste relativamente barato, porém esse é o quarto câncer que mais atinge mulheres em nosso País, esse dado te assusta? Como acha que devemos proceder para mudar essa estatística?
Isso muito me assusta, pois se este índice está tão alto é porque muitas mulheres ainda não tem acesso ao sistema de saúde. Nosso país não investe em saúde!!!

10. Temos muitos estudantes e profissionais iniciantes da área como leitores do nosso site, se pudesse dar um conselho para essa nova geração, qual você daria?
Cada vez mais, os desafios nas nossas profissões serão maiores. Estudem, se especializem e foquem. Sejam o melhor naquilo que você mais gostar. O mundo será dos especialistas, daqueles que não poderão ser substituídos por computadores e inteligência artificial. Seja o melhor no que você ama!!

Agradecemos a entrevistada Dra. Flávia Menezes por ter aceito ao nosso convite e participado do nosso bate-papo. Uma honra tê-la aqui, por ter disponibilizado um pouco do seu tempo para responder as nossas perguntas e compartilhado a sua vivência conosco, obrigada!
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