ENTREVISTA COM A BIÓLOGA SIMONE MAIA EVARISTO


Temos mais uma grande entrevistada iniciamos dizendo que é uma honra tê-la aqui em nosso site, pois ela desempenha um papel muito importante na nossa categoria, na formação citotécnicos em nosso País e é uma das profissionais mais renomadas da nossa área. Recebemos hoje Simone Maia Evaristo, graduada em Ciências Biológicas - Universidade Gama Filho (1990), especialista em Citologia Oncótica pela pela UFRJ (2000)Mestrado Profissional (UNIRIO)Presidente da Associação Nacional de Citotecnologia (ANACITO), Fellow da Academia Internacional de Citologia (IAC). Atualmente é Bióloga / Citotecnologista atuando como docente do curso de formação técnica de nível médio de Técnico em Citopatologia - INCA / EPSJV (Fiocruz). 

1. Simone, queremos saber, quando você se apaixonou pela Citologia? Você se recorda das maiores dificuldades encontradas no início da sua carreira?
Descobri as técnicas citológicas por acaso, me foi apresentado por uma técnica de análises clínicas, durante um estágio no Laboratório do Exército, ela me falou sobre a área e que eu tinha o perfil, então me indicou o local onde poderia fazer o curso, no INCA, mesmo sem ter noção do que era fui conhecer e estou lá até hoje. Antes de terminar o curso fui convidada para trabalhar em um laboratório particular, a princípio como estagiária e quando me formei fui efetivada. Depois passei num concurso público como citotécnica, onde trabalhei no laboratório/disciplina de Citopatologia da Faculdade de Medicina, no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) da UNIRIO, lá trabalhei com citologia ginecológica e não ginecologia, no preparo e leitura, além de dar aulas práticas de citologia ginecológica na graduação de medicina. Atualmente sou concursada no INCA como Bióloga especialista em Citotecnologia, atuando principalmente na docência. 

2. Atualmente você faz parte do time de citotecnologistas do INCA (Instituto Nacional do Câncer) e é docente do curso de formação técnica (Técnico em Citopatologia - INCA), qual é a sua função, atribuições e responsabilidades na instituição?
A missão do INCA é o Ensino, Assistência e Pesquisa, então, além de docente no curso de formação do Técnico em Citopatologia, participamos de projetos científicos nacionais e internacionais, organização de cursos e encontros científicos, orientação em TCC, no monitoramento interno e externo da qualidade, produção cientifica como artigos, livros
 Estácio - Curso de Tecnólogo em Citologia (formatura)
3. Dedicastes a lecionar Citologia para alunos do curso técnico, quais são os maiores desafios para ensinar citologia hoje em dia para alunos oriundos do Brasil inteiro?
Já lecionei em pós-graduações, formação de nível superior, além da formação técnica, todos na área da Citotecnologia. Independente da origem regional do aluno o desafio para a formação é levá-lo ao aprimoramento da acuidade visual para a liberação do laudo técnico fazemos isso com a “imersão” nos casos clínicos e vivência prática na rotina do laboratório de Citopatologia. Atualmente, mesmo o curso sendo de formação técnica de nível médio a maioria dos alunos que estamos recebendo já vem com graduação, especialização e até mestrado, mas a vivência prática que oferecemos consegue igualar as diferenças na formação. 

4. Preside a Associação Nacional de Citotecnologia (ANACITO) o que permite ter um amplo conhecimento da recente conjuntura da prática da citologia no Brasil, como você avalia a atual situação da citotecnologia no nosso País considerando a qualidade do profissional recém-formado e o presente cenário do mercado de trabalho?
A formação em Citotecnologia historicamente começou como treinamento em serviço, aqui tivemos a primeira escola oficial em 1962, a Escola das Pioneiras Sociais, que formou no Brasil e para América Latina, funcionou por mais ou menos 13 anos, outras escolas surgiram mas também não duraram muito, assim perdurou por muito tempo o treinamento em serviço, enquanto nos outros países ocorreram formações regulares e regulamentação da profissão, aqui a pouco tempo foi considerado uma ocupação no CBO (cadastro brasileiro de ocupações) e regulamentação pelo MEC como nível médio, internacionalmente já é uma graduação e / ou especialização. Esse atraso nessas definições nos trouxe a situação de hoje, a precarização do trabalho, o formando concluí totalmente desinformado e nem a quem recorrer, como não se tem muita definição jurídica no país se sujeita a qualquer sobrecarga de trabalho (número de lâminas) sem saber se o salário corresponde ou não. 

5. Um assunto muito discutido em reuniões entre os profissionais que praticam a citologia é a valorização do profissional, como melhores remunerações e condições de trabalho. Qual é a sua opinião em relação ao assunto e acredita que podemos mudar esse cenário?
Infelizmente não é uma área muito unida, até por conta de tantos anos de desvalorização e invisibilidade. Ao invés dos Conselhos de Classe ficarem brigando entre si, deveriam era se apoiarem para melhorar esse cenário. Independente da sua graduação, você tem de ser qualificado o seu Conselho precisa garantir isso, cuidando para que se tenha no mercado pessoal preparado.  Acredito que o primeiro passo seria conhecer a realidade nos outros países, ver se eles têm os mesmos problemas ou como resolveram, principalmente no quesito carga horária x número de lâminas x salário. 
I Jornada Cearense de Citotecnologia

6. Você considera que um bom profissional é aquele que nunca deixa de estudar e deve estar sempre atualizado nas novidades da área? E quais são as suas perspectivas para o futuro da nossa área com o avanço de tecnologias como telepatologia, biologia molecular e citologia em meio-líquido?

A Citotecnologia exige uma atualização continua, a análise da imagem celular é subjetiva, que as vezes nos prega peças, precisamos sempre estar reavivando nossas memorias. As tecnologias vieram para agregar nosso trabalho, aqui podem ser novidades, mas já são muito utilizadas lá fora, em alguns países, como por exemplo nos EUA, já foram incorporadas ao currículo do Citotecnologista, lá como na Europa e em alguns países da América Latina, eles leem citologia de outros sítios anatômicos, aplicam técnicas mais avançadas,  participam de exames intraoperatórios e nas pesquisas cientificas. 

7. A equipe de citotecnologistas do INCA realiza um importante trabalho relacionado ao Controle de Qualidade de amostras citológicas, que é o Monitoramento Externo de Qualidade, conhecido como MEQ. Queremos saber mais sobre como esse procedimento que é realizado pela equipe do INCA e qual é a importância do MEQ para a prática da citotecnologia brasileira?
O rastreio do câncer de colo do útero é considerado um excelente método, referenciado como primordial para os programas de combate ao câncer no mundo, mas por fatores diversos, alheio a nossa vontade, pode ocasionar “falhas” (principalmente falsos-negativos) nos resultados, cuja consequência pode ser a vida de uma mulher. O exame de prevenção é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, realizado por laboratórios públicos e privados prestadores de serviços para o SUS/MS. O MEQ tem como principal função avaliar a qualidade desses resultados. O INCA realiza a releitura de uma amostra selecionada de um determinado período, dos laboratórios credenciados do Estado do Rio de Janeiro, sendo elas 10 por cento dos exames considerados negativos, todos os positivos e insatisfatórios. E elaborado um relatório e os resultados divergentes são fotografados e o laboratório em questão é convidado para uma reunião para discutir os casos. A proposta não é ser punitivo, mas aprimorar a qualidade do exame citopatológico, mas se persistirem as “diferenças” fica a cargos dos Gestores do SUS, tomar as devidas providências. Para a Citotecnologia espero que ele perceba o quanto pode afetar a sua qualidade não ter um parâmetro de quantidade e qualidade das amostras a ser analisadas, porque um falso-positivo, será analisado por outro profissional, no mínimo, mas um falso-negativo ele será considerado o único “culpado”.
Evento realizado em Moçambique
8. Em novembro de 2018 foi realizado no INCA (Rio de Janeiro) o III Congresso Brasileiro de Citotecnologia e a III Jornada Internacional de Citotecnologia, evento esse que reuniu profissionais vindo de várias regiões do Brasil e estrangeiros, como foi para você organizar o evento? Acredita que o nosso País precisa reunir mais os profissionais da área em cursos, congressos, reuniões e conferências?
O nosso primeiro evento foi em 2009, fruto do “Projeto Citotécnico” desenvolvido pelo Coordenação de Ensino do INCA e a SITEC. Esse projeto surgiu principalmente com o intuito do reconhecimento e regulamentação do citotécnico, modernização e credenciamento junto ao MEC do nosso curso. Eu fiquei responsável por agregar esses profissionais, assim foi criada a ANACITO, que leva no nome Citotecnologia, uma palavra que se refere a uma área de atuação e assim agregar diferentes níveis de formação. A organização de um evento é sempre muito trabalhosa, mas o resultado gratificante. Como fruto do primeiro evento, conseguimos que o Citotécnico entrasse como uma das prioridades no programa que estava sendo desenvolvido na época, o PROFAPS, com isso foi construído as diretrizes curriculares e entramos no Catálogo do MEC (tem falhas, mas foi um avanço), em outro evento conseguimos ser inseridos no CBO, e nesse último evento, criamos um grupo para trabalhar a formação em Citotecnologia nos países da CPLP (comunidade de países de língua portuguesa). A troca de conhecimento é infinita, aqui não tem “hierarquia” profissional, somos uma equipe onde todos são importantíssimos. E, sim, precisamos nos reunir, ficamos isolados do mundo por muito tempo, estagnados, só conhecer / aprender o que a “outra” profissão dominante (kkk) queria, acreditando que a nossa atuação é limitada, com isso nos outros países, onde a profissão que teve o mesmo começo, treinamento em serviço, hoje em dia é uma graduação/especialização muito respeitada. 

9. Você sempre destaca em suas palestras e aulas que não se considera uma Citologista, mas sim uma Citotecnologista. Frase essa que pode gerar muitas discussões entre os profissionais da área, queremos saber na sua opinião: por que devemos nos considerar um Citotecnologista?
Me desculpem se eu estiver enganada, mas acho que no Brasil se usa o termo citologista clínico = Citopatologista e já ouvi Citologista dizer que não faz rastreamento e sim diagnóstico.  Bom, eu faço rastreamento e amo isso, além disso é o termo que surgiu por conta da técnica de Papanicolaou, técnica essa que ele não desenvolveu sozinho. Coloco aqui as palavras do patologista Jose Maria Barcellos, coordenador do curso na época das Pioneiras Socias: “Citotecnologia é a técnica cientifica do estudo das células do corpo humano em condições normais e patológicas examinadas ao microscópio e o Citotecnologista é o elemento chave capaz de solucionar o problema do diagnóstico precoce do câncer no que tange a recursos humanos”.
Existe uma definição atual e mais abrangente, feita pela American Society of Cytopathology (2006), eles consideram Citotecnologista = Citologista, um profissional especializado na análise de amostras para fins de triagem ou diagnóstico de processos de doença a nível celular, especialista que auxilia na coleta e preparação de amostra, detecção e interpretação de células normais e anormais e de agentes infecciosos, colorações especiais, imunocitoquímica e técnicas moleculares e podem ser responsáveis por todas as atividades relacionadas à análise pré e pós-analítica, selecionar e operacionalizar equipamentos, além de atuar na área de supervisão, gerenciando  e educacional. Finalizando é minha opção usar Citotecnologia, me sinto, mas ampla e autêntica.
Evento da Marinha
10. Temos muitos estudantes e profissionais iniciantes da área como leitores do nosso site, se pudesse dar um conselho para essa nova geração, qual você daria?
Lembrar sempre que está lidando com uma vida, salvando-a de uma doença silenciosa, talvez você seja a única pessoa a ler aquela lâmina e que seu laudo pode ser o que a irá separar a vida da morte. 


Agradecemos a entrevistada Simone Maia Evaristo por ter aceito ao nosso convite e participado do nosso bate-papo. Uma honra tê-la aqui, quem a conhece sabe o quanto você é uma profissional exemplo e aprendemos muito contigo!


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