ENTREVISTA COM O BIOMÉDICO THIAGO DE SOUZA CRUZ

Hoje temos mais um grande entrevistado na qual é uma honra tê-lo aqui, pois ele tem um papel muito importante na formação da Equipe Citologia Brasil. Recebemos hoje Thiago de Souza Cruz, Graduado em Biomedicina - Universidade Mogi das Cruzes - 2002, Especialista em Citologia Oncótica Universidade Mogi das Cruzes- 2004, Professor do curso de especialização em Citologia Oncótica - Universidade Mogi das Cruzes- 2004-2005, Mestre em Biotecnologia - Universidade Mogi das Cruzes- 2008, Professor titular da disciplina de Citologia Oncótica na Faculdade de Biomedicina e Farmácia na Universidade de Mogi das Cruzes até 2014, Tecnologista no Instituto Nacional do Câncer- INCA- RJ - 2015 e Coordenador do curso técnico de nível médio em Citotecnologia- INCA desde 2016.
1. Professor Thiago, queremos saber, quando você se apaixonou pela Citologia? Você se recorda das maiores dificuldades encontradas no início da sua carreira?
Me apaixonei pela citologia no sexto semestre da faculdade com uma aula de patologia, mais especificamente, citopatologia ministrada pelo professor Marco Aurélio Tevano de Andrade, quando ele me mostrou a importância do diagnóstico citológico na prevenção do câncer e a função do biomédico com relação a esse exame.
A principal dificuldade sempre foi o medo do exame falso positivo e falso negativo e como isso poderia afetar a vida das pessoas que recebessem esses resultados. A ideia de interferir na vida de alguém com um exame errado sempre me preocupou, as consequências para a vida daquela pessoa e dos seus familiares.

2. Dedicastes por alguns anos a lecionar Citologia para alunos da graduação, uma fase em que o aluno está adquirindo a sua base de conhecimento na área. Quais foram os maiores desafios e as grandes recompensas que você se recorda dessa época da sua vida?
Acredito que transmitir a importância da citologia e como ela pode ser apaixonante. Sempre que começava uma turma nova, perguntava para a sala quem tinha o interesse de seguir com a citologia. A resposta, quase sempre, era zero, ninguém tinha o interesse. Perdíamos de longe para áreas como perícia, estética, biologia molecular, entre outras. A medida que as aulas iam ocorrendo, não sei se pela minha paixão pela matéria ou pelo modo com o qual eu tentava transmitir o conteúdo, esse quadro inicial ia, mesmo que timidamente, se alterando. Continuávamos perdendo de longe para as mesmas matérias, mas alguns já aventuraram a hipótese de seguir com a citologia com uma segunda habilitação ou ao menos fazer o estágio. Já no estágio, com os poucos que eu conseguia atrair, já ficava mais fácil faze-los se apaixonar.

3. Tens alunos dos tempos de docente da graduação que tornaram Citologistas, trilharam um caminho semelhante ao seu e hoje são seus colegas de profissão, como é para você ver que foi um influenciador para a carreira dos seus ex-alunos e nos diga quem foi ou é a sua grande inspiração na profissão? 
Com certeza! Tenho vários que foram meus alunos na graduação e hoje ocupam lugar de destaque na citologia, nos mais diversos e renomados laboratórios. Posso dizer com prazer que até me superaram e hoje são referência, tanto na docência quanto na citologia!
Para mim, isso é um grande sentimento de missão cumprida, ver que aquela semente virou uma arvore que gera frutos.
Meu grande incentivador foi sem dúvida o Professor Marco Aurélio Tevano de Andrade, acho que ele nem deve saber disso, mas eu sempre quis ser igual a ele, nunca fui de ficar depois da aula conversando com professores, sempre fui reservado. Certo dia, em uma aula de administração laboratorial, ele perguntou para a turma: “qual o plano de vocês para os próximos 5 anos, acostumem-se a planejar suas vidas para curto, médio e longo prazo e talvez, com muito planejamento, você consiga seus objetivos, mas não espere que a sorte bata a sua porta”  lembro que aquilo me inquietou! E norteou minha vida até hoje. Posso dizer que planejo uma grade parte das minhas ações e, entre altos e baixos, tem mais dado certo que errado.

4. A falta de regulamentações na nossa área, contribuem para que ocorra por exemplo uma sobrecarga de trabalho que pode desencadear numa redução na qualidade dos exames, como resultados falso-negativo. Com base na sua vivência na bancada de laboratório de rotina, qual seria uma quantidade ideal diária de exames escrutinados e você acredita que falta possuirmos mais representantes que lutem pelos profissionais na área?
Não é segredo para ninguém que a falta de regras claras compromete a qualidade do trabalho, desde quem está legalmente habilitado até o baixo valor pago ao exame de citologia, o que faz com que o citologista tenha que trabalhar em mais de um local para ganhar um salário satisfatório que justifique tanto estudo. Assim com dupla, as vezes tripla jornada, a qualidade do exame fica comprometida! Acredito que de 40 a 50 esfregaços por um período de 8h, sendo exclusivamente dedicado esse período para a leitura de lâminas.
Também acho que faltam caras novas na luta pela citologia diagnóstica, pessoas da geração das redes sociais, docência, grandes empresas públicas e privados que abracem a causa. Não que os que lutaram e lutam até hoje tenham perdido seu valor, mas sangue novo com ideias inovadoras somadas a experiencia sempre da ótimos resultados.
5. Atualmente, você é um profissional pertencente a um dos institutos públicos de pesquisa mais importantes do País, o INCA (Instituto Nacional do Câncer) como é a sua rotina, atribuições e responsabilidades na instituição? 
Minha rotina é bem diversificada, cuido da coordenação do curso técnico de citopatologia, onde elaboro o cronograma de aulas dos alunos durante o ano letivo, escalo os professores e cuido para que o programa seja cumprido, gerencio problemas dos alunos e professores. Ministro algumas aulas para a turma, elaboro simulados, procuro sempre projetos de melhoria da estrutura do laboratório. Além disso, faço o monitoramento externo de qualidade dos laboratórios tipo I que prestam serviço para o SUS do estado do Rio de Janeiro. Participo de projetos pedagógicos e de pesquisa.

6. Você é um profissional versátil, te encontramos na bancada, na sala de aula, na coordenação do curso técnico de citologia e na pesquisa, você acredita que um profissional da área não deve ficar limitado apenas a bancada? Há outros caminhos e territórios que podem ser desbravados? Quais?
A bancada é muito gratificante, costumo dizer que quando quero relaxar, eu leio laminas. Com meu fone de ouvido, no meu canto com meu microscópio e minhas lâminas. Não vejo o tempo passar, nem parece trabalho! Mas isso por si só não pode, não deve ser a única coisa que o profissional citologista faz! Existe um oceano de coisas interessantes e agregadoras que podem ser feitas na citologia! A pesquisa é uma delas, gerar novos protocolos, validar outros; implantar uma gestão de qualidade, auditoria em citopatologia, entre outras coisas.

7. Você acredita que um bom profissional é aquele que nunca deixa de estudar e deve estar sempre atualizado nas novidades da área? E quais são as suas perspectivas para o futuro da nossa área?
Sim, costumo dizer que se não sou tijolo e não formo (alunos) tijolo; somos seres pensantes e precisamos disso para evoluirmos! Existe necessidade de sempre estarmos atualizados para não ficarmos para traz! Se até as máquinas que fazem milhões de cálculos por segundo se atualizam, porque nós teríamos que ser diferentes.
Acredito que a citologia não ginecológica será, em breve, uma área mais fortemente ocupada pelos citologistas não médicos. Para mim, isso é uma tendência. 
Professor Thiago de Souza Cruz com o seu filho Lucas, será que teremos um futuro citologista? 
8. Temos muitos estudantes e profissionais iniciantes da área como leitores do nosso site, se pudesse dar um conselho para essa nova geração, qual você daria? 
Dou 3:
Foque, planeje e execute
A paixão vem como consequência...

Agradecemos ao entrevistado Thiago de Souza Cruz por ter aceito ao nosso convite e participado do nosso bate-papo. Uma honra tê-lo aqui, quem o conhece sabe o quanto você é um profissional exemplo e aprendemos muito contigo!
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