ENTREVISTA COM O DRº E PROFESSOR JACINTO COSTA

Temos o grande prazer de receber em nosso site para uma inteligente entrevista o Professor e Dr. Jacinto Costa, ele é pós-doutorado pela McGill University-Departament of Oncology/Faculty of Medicine/Division of Cancer Epidemiology (Montreal/Canadá), Doutor em Ciências/Pesquisas Laboratoriais em Saúde Pública (Patologia Mamária) pela - CCD/USP (2008), Mestre em Biofísica (Biofísica Celular) (2000) e Especialista em Citopatologia (1998) pela Universidade Federal de Pernambuco, possui Título de  Especialista em Citologia Clínica (2008) pela Sociedade Brasileira de Citologia Clínica e formado em Ciência Biomédicas pela UFPE (1994). Professor Associado da UFPE, coordenador das disciplinas de Citologia Geral, Citologia Clínica e Histologia Geral-CCB/UFPE e docente dos Programas de pós-graduação em Patologia/UFPE (POSPAT) e Morfotecnologia/UFPE (PPGMT). Coordenador do setor de Citologia Clínica do LabCen/CCB/UFPE, coordenador do I ao IV Curso de Especialização em Citologia Clínica-UFPE (2010-2017). Diretor Científico da ABBCD (Associação Brasileira de Biomedicina e Citologia Diagnóstica). Coordenador do LPCM (Laboratório de Pesquisas Citológicas e Moleculares) e líder do Grupo de Pesquisas em Doenças Crônico-degenerativas-UFPE/CNPq. 
1. Professor Jacinto, queremos saber, quando você se apaixonou pela Citologia? Você se recorda das maiores dificuldades encontradas no início da sua carreira?
A paixão veio de cedo, antes de cursar a disciplina na graduação. Isso aconteceu porque no primeiro período participei de um congresso e assisti uma palestra de citologia clínica e naquele momento decidi que queria trabalhar na área.
As dificuldades encontradas no início foram: falta de cursos de curta duração, literatura e locais para estagiar, mesmo que voluntariamente. Além de existir um corporativismo muito grande por parte dos patologistas forçando aos médicos não aceitarem os laudos de não-médicos.

2. Você seguiu o caminho acadêmico e o da pesquisa da área da Citologia e Molecular, por que “fugiu da bancada”? Como surgiu o interesse pela vida acadêmica e da pesquisa?
Sempre fui apaixonado pelo meio acadêmico e da pesquisa, na verdade entrei na faculdade com o intuito de ser professor, mas na época os concursos eram raros e então entrei em uma sociedade de laboratório clínico. Como ainda era muito jovem e imaturo tive muito problemas por conta da falta de experiência empresarial, algo que falta na formação, e técnica, porque não se forma uma profissional das análises clínica somente com a graduação, é necessário estágio, vivência e mais estudos, tais como cursos e pós-graduações. Entretanto, sempre fiz as duas coisas, atuação profissional e acadêmica.
Professor Jacinto Costa no VI Congresso Luso Brasileiro de Patologia Experimental.
3. Dedicastes a pesquisa Citológica e Molecular no Brasil e no Exterior, como você avalia a atual situação brasileira da pesquisa na nossa área?
Pergunta difícil de responder, porque vivemos em um país extremamente instável. Você dorme a quando acorda algo foi modificado. É muito complicado fazer planos a médio e longo prazo no Brasil, quem faz pesquisa aqui é quem realmente é apaixonado. No meu caso, não sei o que seria de mim se não estivesse nesse meio. É o que eu realmente gosto e fico realizado, do contrário já teria desistido. Troquei a vida profissional de biomédico analista clínico/citologista, com laboratório bem estruturado, com nome na praça e 18 anos de experiência em hospital com UTI, urgência, hemodiálise e bloco cirúrgico de alta complexidade, pela academia, porque nunca consegui fugir da minha tendência à docência e a pesquisa. Mas respondendo à sua pergunta, a atual situação da pesquisa no Brasil é “nebulosa”. Não temos recursos para trabalhar, estamos retrocedendo e desmontado o que foi montado a duras penas. Estávamos indo bem, crescendo e sendo respeitado no exterior (ainda somos), mas iremos colher os frutos do que estamos passando agora nos próximos 10 a 20 anos, por conta da falta de visão dos nossos incompetentes políticos que visam exclusivamente poder e reeleição.


4. Atualmente exerce as funções de Professor e Coordenador, tens alunos que tornaram Citologistas, como é para você ver que foi um influenciador para a carreira dos seus ex-alunos e nos diga quem foi ou é a sua grande inspiração na profissão?
Sim, tenho vários ex-alunos de graduação e pós-graduação que estão exercendo a citologia e vivendo dela. Me causa muito orgulho quando fico sabendo que estão na ativa.
Sobre inspiradores, digo que tive professores excelentes na minha graduação em outras áreas, mas na disciplina de citopatologia foi sofrível, porque foi ministrada por professores patologistas que limitavam o interesse pela citologia, ele nos faziam acreditar que seríamos apenas citotécnicos, não desmerecendo a classe, mas eles são de nível técnicos, nós somos graduados, nível superior, e passamos por uma formação direcionada a diagnósticos. Acho que isso foi meu maior incentivo, pois sempre me questionava porque o biomédico não poderia exercer essa especialidade, haja vista que temo todas as disciplinas necessárias para o entendimento, sem falar desenvolvemos habilidade no trabalho com microscopia. Além do mais, sempre via apenas citotécnicos analisando as lâminas de citopatologia nos laboratórios onde passava, os patologistas estavam sempre analisando biopsias. Ao conhecer alguns nomes como do biomédico Adhemar Longatto e do Leopold Koss em congressos internacionais que participei, principalmente da Sociedade Americana de Citopatologia fui ficando ainda mais atraído por esse universo tão amplo e ainda não totalmente desbravado.
Professor Jacinto Costa no curso de Atualização em Citologia Cervical de 2018.
5. A Universidade Federal de Pernambuco oferece para profissionais da área da saúde o curso de pós-graduação em Citologia Clínica, na qual é o Coordenador, qual é a importância nos dias atuais de fazer um curso de especialização e qual é o diferencial do curso oferecido pela UFPE?
Sendo a Citologia Clínica uma especialidade onde o crescimento profissional não acontece rápido, é preciso amadurecer estudando e praticando, fazer uma pós-graduação é uma condição indispensável. Nossa especialização tem como diferencial o acompanhamento de perto de cada aluno, além de um corpo docente com vasta experiência na área, sem falar da diversidade de casos (lâminas) que temos para que o aluno possa praticar. São mais de 500 horas de preparação!

6. A região Norte e Nordeste do nosso Brasil, possui um dos maiores índices de mulheres acometidas pelo Câncer do Colo do Útero quando comparamos com o Sul ou Sudeste do País, residindo em Pernambuco, queremos que relate a sua visão sobre a situação na sua região, acredita que há muita procura para pouca demanda de profissionais?
Sim, há uma demanda reprimida, em todas os tipos de citologia, mas a cervical, por se a maior demanda, sempre os números apontam que a quantidade de mulheres que realizam o exame periodicamente está aquém do necessário, principalmente quando consideramos o interior do estado.


7. Você acredita que um bom profissional é aquele que nunca deixa de estudar e sempre está atualizado nas novidades da área? E quais são as suas perspectivas para o futuro da nossa área?
Sim, sem dúvida! Como já mencionei, o citologista tem que ser um eterno e grande curioso, precisa procurar a diversidade de casos e se manter atualizado participando de eventos e estudando muito, um devorador de livros.
Quanto as perspectivas, acredito que as ferramentas adicionais estão chegando aos poucos para complementar a análise citológica e que os citologistas terão de agregar estas ferramentas aos seus laudos, tais como a imunocitoquímica e métodos moleculares. Acho que muito da morfologia ainda está sendo explorada e padronizada. Em alguns tecidos ainda estamos tentando criar sistemas de classificação e algoritmos de conduta clínica para as análises citológicas, a citologia mamária, por exemplo, é um destes desafios.
8. Temos muitos estudantes e profissionais iniciantes da área como leitores do nosso site, se pudesse dar um conselho para essa nova geração, qual você daria?
Geralmente são três conselhos que passo aos meus alunos:
O primeiro: leve a sério a graduação, ou seja, não deixe passar conhecimento algum sem sedimenta-lo. Cursar disciplinas visando obter nota para passar não forma profissional. Você deve estudar e extrapolar o que foi debatido em aula, isso sim vai formar um bom profissional. Muita atenção nas disciplinas do ciclo básico, são elas que darão a base dos demais conhecimentos.
O segundo: tente aproveitar ao máximo o tempo da graduação. Seja monitor de disciplina, faça iniciação científica (se possível) e quando estiver nos períodos finais do curso estagie, mesmo que voluntariamente, o máximo de tempo que puder, experimente para depois escolher sua subárea por afinidade. Depois que sair da graduação faça pós-graduação.
O terceiro e não menos importante é: seja ético e humano, a todo custo.

Agradecemos ao entrevistado Dr. Jacinto Costa por ter aceito ao nosso convite e participado do nosso bate-papo. Caso queiram entrar em contato com o entrevistado deixamos aqui o seu contato: FACEBOOK
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