Hoje temos mais um grande entrevistado no mundo da Citologia, temos a oportunidade de entrevistar o Farmacêutico Bioquímico Berlley Meira. Possui graduação em Farmácia - Bioquímica pela Universidade de Tiradentes (2014), pós-graduação em Citologia Clínica (2011), membro da Socidade Brasileira de Citologia Clínica. Atualmente é professor efetivo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), ministra aulas de pós-graduação, cursos e palestras em diversas área da citologia oncótica e é idealizador do Software HASS e do site de educação continuada CAPACITOPROF.
1. Professor Berlley, queremos saber quando tudo começou, conte para os nossos leitores, qual é a sua formação, as suas experiências profissionais e quando você se apaixonou pela Citologia? Você se recorda das maiores dificuldades encontradas no início da sua carreira?
1. Professor Berlley, queremos saber quando tudo começou, conte para os nossos leitores, qual é a sua formação, as suas experiências profissionais e quando você se apaixonou pela Citologia? Você se recorda das maiores dificuldades encontradas no início da sua carreira?
Bem, sou farmacêutico formado pela Universidade
Tiradentes na cidade de Aracaju no ano de 2004. Quando me formei a porta que me
abriu foi a dos medicamentos, então trabalhei em drogaria e distribuidora de
medicamentos, só que tinha uma lacuna a ser preenchida, pois, sempre desejei trabalhar
com análises clínicas. Retornei para minha cidade Jequié, interior da Bahia em
2006 para tentar trabalhar em algum laboratório, o que de fato aconteceu;
trabalhava em um laboratório particular, dava aulas em cursos para técnicos de
enfermagem e também passei a coordenar o laboratório do Hospital Geral aqui da
cidade já em 2007. A vida seguiu e em 2010 alguns obstáculos apareceram e eu
tive que dar uma virada na minha vida profissional, foi quando um amigo que
estava fazendo um curso prático em citologia clínica e já ia começar a
pós-graduação me fez o convite para irmos juntos. Na primeira aula ministrada
pela professora Lúcia Castro, eu apaixonei pela citologia e tracei como meta,
viver da citologia.
As dificuldades encontradas foram
várias, devido aos 360 km de Salvador onde era o curso e indo três vezes por
mês por conta do curso prático que fiz concomitante a Pós-graduação, isso foi
extenuante, mas o prazer da citologia era imensurável a cada aprendizado.
Depois que você está apto para trabalhar com a citologia a grande dificuldade é
entrar no mercado e permanecer nele.
2. Atualmente como é a sua rotina,
atribuições e responsabilidades relacionadas a Citologia?
Hoje minha vida profissional está toda
voltada à citologia. Em parceria com laboratório da cidade atendo a mais de 20
clínicas particulares de Jequié e região, lendo lâminas de citologia
cérvico-vaginal e mamária; desde 2013 leciono as disciplinas de Citologia Clínica e Hematologia Clínica na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
sendo que o êxito no concurso foi devido aos assuntos da citologia que contavam
no edital. Ministro diversos cursos na área da citologia e módulos de
Pós-graduação, com isso a citologia foi dominando meu tempo de forma que devido
as minhas necessidades eu resolvi criar um software para digitação de laudos
chamado HASS (antigo Helisa) algo que fosse personalizado para citologia, fiz
na época pensando no meu uso, só que deu tanto certo que alugo para vários
colegas em todo Brasil e por final o CAPACITOPROF.
PALESTRA NO CONGRESSO DA SBAC RIO - 2018 |
3. Quando surgiu a ideia e o que te motivou na criação e na elaboração do site de educação Permanente e controle externo de qualidade por imagens online voltado a prática da Citologia, chamado Capacitoprof?
Como eu já tinha desenvolvido um software de digitação de laudos
juntamente com um colega de sistema de informação, veio à ideia de fazer algo
relacionado tanto a educação continuada quanto ao controle externo, motivado
pelas lacunas existentes nesse segmento, pois nos outros poucos programas
existentes no Brasil deixavam a desejar. Então queria fazer um programa
diferente dos demais, que tivesse um valor acessível e qualquer pessoa pudesse
participar, tanto os profissionais quanto os alunos de pós-graduação sem
nenhuma burocracia, único com vídeo comentado das questões anteriores,
certificado imediato mediante aprovação e o cliente também pode ser convidado
para participar com seus casos clínicos em um determinado mês, isso faz um a
interação muito grande entre o programa e o cliente. Todas essas situações não são encontradas em nenhum programa já existente,
somente no Capacitoprof. Coloquei mais um serviço no mercado, e o cliente é
quem escolhe, hoje me sinto realizado depois de um ano e meio de trabalho
lançamos o site o mês de maio de 2018 e já atingimos muitos clientes e tem
crescido constantemente.
AULA DE APERFEIÇOAMENTO EM CITOLOGIA. ARACAJU |
4. Em sua página da rede social Instagram (@Capacitoprof), além de tratar sobre assuntos relacionados a Citologia Ginecológica você tem um diferencial em sua rede abordando sobre Citologia Mamária, como é tratar sobre esse nicho pouco discutido? Você gosta de realizar Citologia Mamária no seu dia-a-dia?
Sempre desejei fazer a citologia NÃO
ginecológica e a citologia mamária apareceu em minha vida em 2016, comecei a me
dedicar, ler, estudar tudo que eu encontrava sobre o tema e graças a Deus as
coisas foram se encaminhando. Como poucos citologistas leem lâminas de mama, vi
uma grande oportunidade de entrar nesse mercado, hoje leio bastante lâminas de
citologia mamária onde tenho contrato com clínicas que fazem punção do material
mamário e praticamente todas as lâminas da cidade vem para mim e lâminas também
de outras cidades vizinhas. Realmente é um assunto pouco discutido, mas vejo
que tem mudado um pouco e as pessoas estão atrás desse conhecimento. Em junho
de 2018 estive dando um palestra no congresso da SBAC sobre citologia mamária e
via grande interesse sobre o tema, ministro cursos de imersão de citologia
mamária em vários lugares, que justamente é um curso voltado para citologistas
que querem entrar na citologia mamária com segurança e vejo que as pessoas tem
buscado avançar nas abrangências da nossa profissão.
5. Dedicastes a lecionar Citologia, quais
são os maiores desafios e as grandes recompensas de ser professor e formar
alunos que estão a um passo de seguir a vida profissional?
Eu sou um felizardo, pois ensino
citologia a diversos alunos, ministro aula na graduação, na Pós-graduação,
curso de aperfeiçoamento em cérvico e imersão em citologia mamária que são
alunos especialistas às vezes mestres e doutores e tenho oportunidade de
exercer esse ofício que tanto me faz feliz . O maior desafio é transferir o que
você sabe sem negligenciar (ocultar) o conhecimento e ter certeza de que a
forma que escolheste para transmitir a informação foi validada pelo aprendizado
do aluno. As recompensas são Várias; a principal é o sucesso profissional
desses alunos e ter a satisfação de saber que você participou desse processo,
me sinto honrado em ser professor.
AULA PÓS GRADUAÇÃO VITÓRIA DA CONQUISTA |
6. Acredita que um bom profissional é
aquele que nunca deixa de estudar e sempre está atualizado nas novidades da
área? E quais são as suas perspectivas para o futuro da nossa área?
Estudar se faz necessário! Não tem
como ser bom não estudando. Infelizmente alguns profissionais deixam os estudos
de lado. Entendo que não é somente o estudo citológico que precisamos, mas a
compreensão de muitos aspectos para obtermos o sucesso. Existe ciência para
tudo e temos que nos aprofundar em áreas que às vezes fogem dos aspectos
citológicos. Irei citar dois exemplos: Relacionamento pessoal, pois dependemos
muitas vezes de lidar com médicos, enfermeiros, secretárias e isso faz muita
diferença.
Compreensão financeira, o que se ganha
na leitura de uma lâmina não é algo extraordinário e muitos profissionais não
estão preparados para gerir um laboratório de Citopatologia, então essa
compreensão é necessária para que a matemática financeira não destrua o
conhecimento citológico. Penso que, para o futuro em curto prazo, os
profissionais que terão êxito serão os que estiverem investindo nas mais
diversas áreas do conhecimento, por que em longo prazo teremos que nos adaptarmos
as tecnologias que resumirão em caber tudo em um “smartphone”.
IMERSÃO EM CITOLOGIA MAMÁRIA OURO PRETO |
7. A região Norte e Nordeste do nosso
Brasil, possui um dos maiores índices de mulheres acometidas pelo Câncer do
Colo do Útero quando comparamos com o Sul ou Sudeste do País, residindo na
Bahia, queremos que relate a sua visão sobre a situação na sua região, acredita
que há muita procura para pouca demanda de profissionais?
Expressarei minha opinião podendo
divergir de outras, não vou isentar a participação do citologista nesse
processo, mas, na minha visão o que acontece não é a pouca demanda de
profissionais. por que nunca se deixou de fazer uma leitura de lâmina pela
falta destes e sim do poder público responsável pela contratação do laboratório,
do valor da tabela SUS que é uma vergonha, do gerenciamento do SISCAN que
dificulta o trabalho pela lentidão, até mesmo da coleta do material que em
muitas vezes falta espéculo para um enfermeiro colher, onde já vivenciei não
colher material por não ter luvas em uma UBS, O segmento terapêutico frente a
uma atipia, uma lesão ou até mesmo uma malignidade, pois faltam médicos nas
unidades e tudo isso aumenta as dificuldades impostas as mulheres que viram
refém do próprio sistema elevando o número de casos de câncer em nossa região.
Infelizmente a realidade imposta pelo SUS é complexa, particularmente estou
deixando de realizar exames pelo SUS agora em dezembro de 2018, ficarei só com
a demanda do particular que tem aumentado bastante diante de um efeito que foi
verificado em todo território nacional que foi a saída dos clientes dos planos
de saúde e esses migrando para as “clínicas com preços populares”.
8. Temos muitos estudantes e
profissionais iniciantes da área como leitores do nosso site, se pudesse dar um
conselho para essa nova geração, qual você daria?
Sempre expresso para os novos
profissionais que estão chegando nessa área linda que é citologia a necessidade
de investir. Tem que plantar para colher e às vezes estão comendo as sementes
tentando se saciar e isso é perigoso. Investir em um bom microscópio, livros,
cursos, congressos, capacitação, educação permanente, na sua imagem como citologista
e no mais precioso investimento que é o tempo, esse é essencial para que tudo
aconteça.
Agradecemos ao entrevistado Berlley Meira por ter aceito ao nosso convite e participado do nosso bate-papo. Uma honra tê-lo aqui, quem o conhece sabe o quanto você é um profissional exemplo e aprendemos muito contigo!
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