O NOSSO RASTREAMENTO POPULACIONAL É EFICIENTE?

São quase 20 anos da criação do Viva Mulher, quando na época, o Ministério da Saúde identificou a necessidade de um programa que abrangesse todo o nosso extenso Brasil, pois perceberam não somente a importância da realização do exame citológico periódico, mas que "prevenir custa bem menos do que tratar". Atualmente, o exame citopatólogico é um exame incluso no Sistema Único de Saúde (SUS) (INCA, 2016). Durante essa quase duas décadas algumas coisas mudaram, tivemos a implementação do SISCOLO, melhores definições na faixa etária das mulheres preconizadas pelo SUS para a realização do exame e a inserção da vacina contra do papilomavírus humano (HPV), o agente causal do Câncer do Colo do Útero, no calendário de imunizações disponibilizadas pelo SUS. Porém, uma pergunta paira no ar na cabeça de todos os profissionais que atuam na citologia e na prevenção do Câncer do Colo Uterino, será que o nosso rastreamento populacional é eficiente?
A última estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) publicada em 2016 indica uma incidência de 16.340 novos casos de Câncer do Colo do Útero no Brasil e que tivemos registrado um total de 5.430 mortes em 2013, fazendo com que essa doença ocupe a quarta causa que mais mata mulheres e a terceira mais incidente no sexo feminino no nosso País, mas será que essas informações corresponde ao que verdadeiramente ocorre no aqui no Brasil? No trabalho recente, de Gandra e colaboradores publicado em 2017, foi realizado um estudo de rastreamento populacional em Montes Claros - SP, os autores citam em sua conclusão a dificuldade encontrada com o SISCOLO, que impossibilitou a correta busca de números relacionados a quantidade das mulheres examinadas, o que faria com o que o seu estudo ficasse ainda mais completo. Outro trabalho realizado com a população do nordeste, mais especificamente Teresina, publicado também em 2017, Damacena e colaboradores, também batem na mesma tecla em sua discussão, enfatizando a dificuldade encontrada com o mesmo sistema - e para aqueles que tiverem interesse em ler todos os artigos citados, disponibilizaremos ao final desse texto. São inúmeros os trabalhos brasileiros que citam essa e outras dificuldades, esses são apenas dois dos vários que existem, apesar dos nossos esforços diários temos a impressão que o nosso empenho é inválido principalmente quando vemos que no Brasil milhares de mulheres ainda morrem por ano recorrente de doença que tem cura.
O exame de Papanicolaou é um teste que apresenta custo baixo ou seja é um exame barato, e mesmo assim, falhas em sua cobertura populacional existe, seja por não atingir todo território brasileiro, pelos erros recorrentes no momento da colheita do material ou os resultados falsos-negativos - que serão assuntos discutidos em outros textos. O avanço da tecnologia trouxeram progressos, como a Citologia em Meio Líquido, Testes Moleculares, como a Captura Híbrida ou o HPV DNA Test e a vacina contra o HPV já citada acima e que apenas verificaremos os efeitos desse processo de vacinação "em massa" provavalmente daqui a 20 ou 30 anos. Os Testes Moleculares e a Citologia em Meio Líquido, são recursos mais caros, porém que apresentam maior sensibilidade do que o método convencional. Na tese de (MARTINS, 2016), que foi realizada pela Universidade de São Paulo (USP) um grande estudo, comparando a Citologia e o Teste Molecular, com um (n = 15.991), nesse completo trabalho, destacamos alguns resultados para se refletir como: o DNA do HPV foi detectado em 12,1% das citologias classificadas como negativas e a citologia sozinha não teria detectado 18 casos de NIC 2+ tendo nesse estudo positividade para o teste de HPV. Não crucificamos a Citologia Oncótica, somos um Portal que trata justamente dessa especialidade e acreditamos na importância dessa técnica criada por George N. Papanicolaou em 1928, verificamos que tais conteúdos são atualmente constantemente apresentados em Congressos e Simpósios e achamos importante abordar e discutir esses temas aqui com os profissionais que acompanham o "Citologia Brasil" e que atuam na área.
Há um batalhão de gente nessa guerra, um combate contra algo invisível, um vírus traiçoeiro e somos todos os soldados nessa luta, temos muitas "armas" e chegamos num momento que temos que repensar as nossas estratégias para que possamos vencer essa batalha, se é que ela tem um vencedor. 

REFERÊNCIAS

BRASIL, Instituto Nacional do Câncer. Colo do Útero. 2016. Disponível em <http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/colo_utero/definicao>

GANDRA, S. A., et al. Rastreamento do câncer do colo do útero em Montes Claros, Minas Gerais: análise de dados do SISCOLO no período de 2004 a 2013. Montes Claros, v. 19, n.1 - jan./jun. 2017. Disponível em <http://www.ruc.unimontes.br/index.php/unicientifica/article/view/387/399>

DAMACENA, A. M., et al. Rastreamento do câncer do colo do útero em Teresina, Piauí: estudo avaliativo dos dados do Sistema de Informação do Câncer do Colo do Útero, 2006-2013. Epidemiol. Serv. Saúde, vol.26, n.1, pp.71-80, 2017. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2237-96222017000100071&script=sci_abstract&tlng=pt>

MARTINS, T. R. Citologia líquida e teste molecular para HPV de alto risco: avaliação de novas modalidades de rastreio para prevenção de câncer de colo do útero na rede pública de Saúde do Estado de São Paulo. Tese de Doutorado, 2016. Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5134/tde-25042017-145927/pt-br.php>

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